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Vento, fogo e mistério.




Ele era fogo vivo, forte, ágil. Tinha um semblante de quem nunca sofreu, de quem nunca provou dor alguma, de quem nunca chorou, de quem nunca sentiu frio, nem medo, nem nada, de quem nunca morreu de amores. Apresentava-se altivo e pomposo, trazia no caminhar a magnitude de um flamingo, e aparecia do nada, exalando suas cores, como que um apressado arco-íris a qualquer sinal de chuva. Mas tinha alguma coisa, alguma coisa em seu olhar que dizia mais do que queria, mais do que podia revelar, mais do que seu sorriso impecável conseguia esconder. Entre o perigo e o mistério que tomava conta da situação, Brígida escolheu arriscar. Logo ela que era desapego, simplicidade, vento de outono, vento forte, vento quente, com cheiro de dor, de inevitável  poeira escondida pelos cantos. Logo ela que, de tanto ir e vir, com tanta intensidade e pressa ao mesmo tempo, guardava consigo estórias de tantos passantes, estórias de lágrimas, de sorrisos, resquícios de amores proibidos, pelo tempo, pela vida, jogados ao léu.
Como pode fogo e vento permanecerem juntos, sem causar destruição? Pelo mistério valeria o risco. Iria descobrir, de uma forma ou de outra, porque desvendar silêncios e olhares perdidos em rostos de cera sempre foi seu hobbie predileto. Talvez porque houvesse aprendido, que por trás de todo sorriso tranquilo sempre existe um olhar inquieto.  

A.C.N.A

2 comentários:

luara veloso disse...

Feliz de quem encara o desafio... "Viver" e "poupar-se" são verbos que não cabem numa mesma frase. Pena que a gente nem sempre aprende essa lição direito.

Ana disse...

concordo plenamente Luara, com tudo.

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Ela escrevia...

Ela escrevia...
E esquecia do mundo.

Em sintonia...